23 de fevereiro de 2007



Gastronomia da GNT anotada


Receitas de Nigella - Apesar do delicioso sotaque upper class, Nigella Lawson (na foto) não é nada aristocrática. Chafurda nos ingredientes, adora uma gordura, procura receitas em livros velhos e suspeitos, consulta as anotações de família e come com as mãos. É a grande mãezona dos programas do gênero: está sempre com a casa cheia de amigos e crianças. Gastronomicamente incorreta, é a antítese da comida light e de chef. Já vi empanar barras de chocolate industrializadas e mergulhar cada uma em gordura borbulhante. Não é por acaso que, apesar de linda, é sempre mostrada da cintura pra cima: tende a comer além da conta. Diz a Danielle Dahoui, ex-Bar d'Hotel, que suas receitas não funcionam. Não importa. Pela subversão, merece meu respeito eterno.


Menu Confiança - Impossível não simpatizar com a figura bonachona de Claude Troisgros. A mistura de francesice atolada e informalidade carioca tem muito charme. Mas não esqueça que se trata de um mestre, da linhagem de Pierre Troisgros. Com uma vantagem: Claude consegue fugir da gastronomia doutrinária com malandragem e ingredientes dos trópicos. Técnico, porém caloroso. Nunca vou me esquecer da cena em que resgatava um pato daquela gordurama coagulada do confit enquanto soltava hmmmmmms e ais. Ou do seu olhar de confusão diante das misturas idiossincráticas de Nao Hara, do Shin Miura. Renato Machado representa seu avesso. Sempre overdressed, com tom professoral, escolhe suas palavras com tanta prudência que parece estar escrevendo seu epitáfio. É uma espécie de Amaury Jr dos vinhos. Quando aparece, dá sono.


Truques de Oliver - Fico um pouco cansado quando assisto Oliver na tevê. Nervosinho, fala muito rápido e com língua presa enquanto se mexe de um lado pro outro. Parece fazer tudo meio atabalhoadamente. É a arma da gastronomia televisiva para combater o ranço das tradições e a fala distanciada dos especialistas. Sua persona parece querer dizer: "sou zovem, tenho atitude, cabelo descontruído, roquenrol, mp3, percebe?". Tenho alguma desconfiança sobre as suas escolhas de combinações e suas receitas. Parece haver algo muito inglês ali, de quem foi criado com fish and chips (eca). Um dos pontos altos foi sua viagem para a Itália, onde seus pratos foram rechaçados em várias casas de mamma. Morri de rir.


Mesa pra Dois - Uma combinação tipo Troisgros/Machado essa de Flávia Quaresma e Alex Atala. Ele, num estúdio que mais parece cenário de THX 1138, representa o rigor técnico e a contemporaneidade. Ela, mochilando pelo Brasil e resto do mundo, faz amigos, prova temperos estranhos, vai a fábricas de farinha de mandioca e desvenda mistérios. Consigo admirar os dois, a despeito da fa-la com pau-sas es-qui-si-tas de Atala, já famosa. É dos programas mais informativos para quem gosta de gastronomia. Aprendi com o chef, por exemplo, várias técnicas de emulsão (em teoria, já que só entro na cozinha para abrir a geladeira). Ou a importância da temperatura de cocção para atingir diferentes efeitos, como o sabor caramelado nas carnes. Flávia me mostrou ingredientes de que nunca tinha ouvido falar. Me disseram que o programa parou de ser gravado. É verdade?

Um comentário:

Unknown disse...

Adorei este post porque sempre quis falar desses chefes. Minha primeira observação é a quantidade de manteiga que Nigella, Oliver e Claude ( em menor quantidade) usam. Fico sempre pensando: como não são enoooooormes de gordos? e o colesterol dessa turma? Mas as duas coisas que considero mais marcantes são: a fofíssi de Claude e falta de higiene dos dois ingleses. Meus Deus, o quê é aquilo? O Oliver também me deixa exausta e ao mesmo tempo preocupada; qualquer dia aquele menino vai amputar o dedo e como não lava as mãos antes de cozinhar, certamente terá uma infecção. Oh, boy...